Ao que sei, Manuel Bandeira soía dizer que o verso mais bonito da língua portuguesa era: "Tu pisavas nos astros distraída", de "Chão de Estrelas", do Orestes Barbosa, compositor, poeta, jornalista que seguiu os passos de João do Rio.
Para mim os versos mais bonitos são (tenho que citar os dois):
"Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar [inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio"
do poema "Tarde de Maio", do Drummond, originalmente publicado em Claro Enigma, retrato do Carlos maduro.
Comparação insólita, absurdamente poética, só mesmo podia ser vazada em verso insólito por seu comprimento. Musicalidade de resto garantida pelos dois decassílabos heróicos (quase) perfeitos em que ele pode ser desmembrado:
Co/mo e/sses/ pri/mi/ti/vos/ que/ ca/rre/gam
por/ to/da/ par/te o/ ma/xi/lar/ in/fe/rior
Aqui a condição do poeta: leitor, curioso, sensível, a extrair poesia de asperezas onde o sensitivo ou sentimental não veria.
A foto, tirei-a em são Francisco. Apesar da fiarada feia, é uma tarde de maio. Que levo comigo.
2 comments:
Lendo e aprendendo!
LuaR
“Em maio, a tarde não arde. Em maio, a tarde não dura. Em maio, a tarde fulgura”.
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