Lá em São Bartolomeu
colada ao Rio das Velhas
vive rua já bem velha
tantas velhas nas janelas
neste mesmo arruamento
que vai dar lá nas Mercês
imperiosa tem assento
igrejona azul e branca
contando mais de trezentos
anos. Sem grandes artífices
não tem ela Aleijadinho
não tem ela chinesices
não tem ela grande órgão
Ataíde ela não tem
mas tem ela duas torres
duas torres em quatro águas
duas torres telhadinhos
sendo a esquerda, a esquerda torre
(tinha que ser a sinistra)
que quase esconde da vista
o seu tesouro maior:
velho sino de madeira.
Esse sino tem histórias
e não poucas as versões
roubaram o sino de prata
ninguém sabe dos ladrões
nem para quem protestar
tempo que o governador
Velho Conde de Assumar
punha fogo em Ouro Preto.
Fabricam pois outro sino
de madeira pois não cabe
arraial, mesmo pequenino,
ter igreja assim caolha
Assim sino e seu badalo
sino mudo de madeira
tanta vez tocou em vão
tanta vez se desespera
no afã de ser ouvido
tão inútil o seu badalo
Não será como Cassandra
que viu dentro do cavalo
de Troia a destruição?
E ninguém lhe deu ouvidos
por mais que a jovem gritasse
O vemos em poucas horas
entre nacos da cascão
depois nos vamos embora
enquanto ele -- o sino mudo --
tartamela o seu bordão
no alto da torre esquerda
manterá os seus badalos
para ouvidos nenhuns
Galo velho no quintal
rouco mouco pouco galo
que ainda grita de manhã
para ouvidos nenhuns
Capela das Mercês |
2 comments:
Sino sinistro e mudo
De função ornamental,
Não tem a rerverberância
Dos que são feitos de metal.
Muito interessante essa sua descoberta, cara.
Amei esse poema
PARA OUVIDOS NENHUNS
Parece uma pessoa
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