Amendoeira em frente ao prédio de Carlos, na Conselheiro Lafaiete |
Estava de saída para o IBEU, naquela manhã de terça há exatos trinta anos, quando soube pela minha mãe que o Drummond morrera. Peguei uma sua antologia, a ótima Seleta da José Olympio, comentada pelo Gilberto Mendonça Teles (que escreveria a introdução do meu primeiro livro daqui a sete anos) e fui para o curso. Nada mais justo: eu recém chegara de Chicago, para onde levara apenas um livro: o Reunião. Então as coisas se encaixavam nesse agosto desencaixado: a professora perguntou se alguém tinha algo a dizer e eu falei da morte do Drummond, abri o livro e li "Os ombros suportam o mundo". Todo mundo aplaudiu e eu inflei como um baiacu. Mas o Drummond, morto.
Na volta esqueci de pegar o troco com o trocador do 422 e de novo me enchi de orgulho: deve ser por causa da morte do Drummond.
Soneto de maio
(Vinícius; Rio de Janeiro , 1957)
Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.
Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.
Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto
Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...
Ouro Preto, maio de 1967
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.
Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.
Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto
Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...
Ouro Preto, maio de 1967
Café e Bar Outeiral, esquina da Conselheiro Lafaiete, onde Carlos tomou pingados |
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