Com o anúncio do campeão "Amoela qui nem jiló", do grajauense Santo Remédio, acabou-se o que era doce, digo, o festival Comida di Buteco 2015, comida passaporte para enfartos fulminantes. Curioso que o campeão haja sido justamente um dos petiscos mais criticados por intelectualoides de plantão, que caíram de pau na 'gentrificação' da moela e do jiló, este comida de passarinho, aquela petisco baixo-clero (in)digno dos botequins da Rua do Matoso. A verdade é que, até onde sei, não se juntara ainda moela, jiló e chutney de manga e o que fizeram, portanto, foi invenção e, como disse o padre Bartolomeu Lourenço a bordo de sua passarola, "Oh que maravilha é viver e inventar". Quem não gostou peça batata-frita.
Mas vim falar de um outro petisco concorrente, também grajauense, de nome igualmente original e que comi por duas vezes durante o festival :: as Bochechas Amigas, bochechas de porco com migas, do Enchendo Linguiça. Creio que este despertou ainda mais nojinho que a moela. Afinal, onde já se viu comer a bochecha do porco? Bem, para além do mérito de o petisco motivar as pessoas a provarem algo que lhes parecia repugnante, existe toda uma história para isso de comer bochecha e pé e orelha de porco, que Anthony Bourdain, Em Busca do Prato Perfeito (já citado aqui), explica muito bem ::
"Se não descobrissem [franceses e italianos] o que fazer com a cabeça do vitelo, os pés do porco, os caracóis, o pão velho e todos aqueles cortes baratos e aparas de carne, eles passariam fome, quebrariam, não teriam como usufruir do bom e do melhor em ocasiões especiais"
Mais adiante ::
"aprenderam a gostar de pés e focinho. Tinham conseguido achar algo de bom em cada pedacinho -- desde que bem preparado"
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