Monday, August 05, 2013

How do I love thee? no Varal de Poesia


Hoje foi dia de Varal de Poesia. Depois que eu e os licenciandos penduramos os poemas nas cordinhas começou a chover. No começo achei bonito, botar a galera para ler poesia sob chuva mas logo descobrimos que os pingos borravam as letras.

Transferimos tudo para um corredor que faz as vezes de refeitório no colégio. Não foi tão legal mas todos leram, curtiram, escolheram.

Dois alunos se encantaram pelo soneto "How do I love thee?", da Elizabeth Barrett Browning, e também uma licencianda, que disse estar vivendo isso nestes dias que vão.

Funny thing is: andava pensando muito neste soneto. Aí, foi chegar em casa e literalemente desenterrar uma tradução que fiz há mais de 20 anos e que foi publicada no número 1 da Revista Q, periódico que os alunos de Letras da PUC-Rio tínhamos no início dos 90.

Não sei se acho a tradução grande coisa, teho preguiça de revê-la. Mas num passar d'olhos já dá pra ver que perdi a enumeração "depth and breath and height" com o generalizante "além de toda vã fronteira". Mas talvez haja algum pequeno acerto.

Aproveito e coloco também a tradução do Bandeira. Nunca gostei do Manuel tradutor. Suas versões de Emily Dickinson são particularmente ruins de tão palavrosas. A daqui é menos uma tradução que um poema de Bandeira, algo como Glenn Gould tocando piano. Mas isso pode ser bom.





HOW DO I LOVE THEE?

Elizabeth Barrett Browning


How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.


I love thee to the level of every day's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.


I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose


With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.



Minha tradução:


Como eu te amo? Medir é loucura.
Amo-te além de toda vã fronteira,
como quando, minh'alma sobranceira
pelo Ser e Graça ideias procura.

Amo-te em dia claro e noite escura,
de secreta, recôndita maneirar:
como os homens justos, amo-te inteira,
e como os humildes, amo-te pura.

Amo-te com a mesma paixão antiga
e com a fé de eu criança, sempre forte;
com a flama que eu julguei perdida

com as velhas crenças - amo-te de sorte
que se quiser Deus, ao findar-me a vida
amar-te-ei ainda mais depois da morte.


A tradução do Manuel Bandeira:



Amo-te quando em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

Varal de Poesia 2013

Varal de Poesia 2013


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