Óbvia e merecidamente a personagem mais conhecida de Herman Melville é Moby Dick, seguida talvez pelo seu algoz Capitão Ahab. Mas não nos esqueçamos de Bartebly, aquele escrivão em um escritório de Wall Street que, ao monocordicamente repetir "I'd prefer not to", desestrutura seu chefe e todo o trabalho do escritório. E todos nós leitores.
Bartleby é a peça da engrenagem que se recusa a sê-lo. Bartleby é a desobediência civil de Thoreau e a ahimsa de Gandhi. Bartleby é a revolução silenciosa, é o espelho, a chance do espelho, à nossa frente.
O escritor catalão Enrique Vila-Matas viu na recusa do escrivão uma "pulsão negativa ou a atração pelo nada" e, por antonomásia, diagnosticou uma "Síndrome de Bartebly". Seriam bartlebies aqueles escritores que não escrevem ou, mais bartlebysianamente, escrevem um ou ou dois livros para depois renunciar à escrita.
J.D. Salinger será porventura o caso mais conhecido. Entre nós, citaria Raduan Nassar.
Também eu fui um bartleby e dizia isso aos meus alunos já lá para o fim da interpretação do texto. Tendo publicado Taipa em 1994, os anos passavam e o pequeno volume da Editora Mundo Manual continuava filho único. Não havia glória aqui, mas tampouco demérito. Menos ainda comparava-me a Salinger e Nassar. Leitor voraz, não sou sem noção para essas coisas.
Mas...Bartleby, meu irmão, ainda te chamo assim, I will love you forever, mas saí do clube, tá? Eis que 18 anos depois Taipa ganha dois irmãos. Gêmeos. Voo Sem Pássaro e Caderno de Sonetos sairão pela Editora Laphroaig e virão a público amanhã na Livraria Al-Farabi.
No comments:
Post a Comment