Este é o Clemilton, da Mata da Onça, povoado alagoano às margens do São Francisco. Mata da Onça é como que distrito da Ilha do Ferro, por sua vez distrito de Pão de Açúcar, velha sertaneja alagoana, muito citada, com Piranhas, pouco acima, nas crônicas do cangaço
Este é o Clemilton. Mas fica difícil chamar Mata da Onça, com suas seis casas, duas delas quase tão velhas quanto o rio, de "distrito". Nem capela tem. É povoado. Não está no mapa, e olha que falo do mapa específico das Alagoas.
Mas voltemos ao Clemilton, artesão de mãos cheias, como outros da Ilha do Ferro. Pense num Vavan, pense num Cícero. Meu barqueiro, Caronte, acha ele devia se mudar para a Ilha, por amor de ter mais visibilidade. Meu amigo André Dantas, da Ilha, acha ele deve manter-se lá em seu tugúrio mesmo, isso lhe agrega
Concordo com o André. Clemilton decerto recebe menos visitantes. Mas os que chegam até ali sabem por que chegaram
Clemilton pinta o que vê pela frente: as paredes de sua casa, as paredes da sua cozinha, paredes e portas e janelas. Diz que seu sonho era ser artista, talvez pensando em pinturas, mas ele se especializou mesmo nas obras em madeira. Um artista. Feito, consumado, total, na acepção romântica do termo. Não deu pra roça, não deu pra moleque de feira quando pequeno. Não gosta do burburinho de Pão de Açúcar, gosta do seu canto, gosta do murmúrio do rio, e olha que o Velho Chico é muito quieto por ali. Pedi-lhe história do nego d'água, o caboclo d'água, o romãozinho, espécie de saci fluvial. Ele, sem barqueiro ser (Clemilton é só artista), contou-me.
Alumbrado pela prosa, pedi licença pra mergulhar no rio. Lembrei-me foi do Mário: "Que calmaria serena... Que mundo de águas lisas, fluidas... Que espelho claro... Uma ausência plena de inquietações, de audácias... E o sol, o sol do lado, todo de ouro branco, claro, mui claro, claríssimo, impossível da gente fitar". Interrompeu tanta calmaria o barco que trazia crianças da escola. Mergulhei e fingi ser o nego d'água, sorriram sem entender muito. Por elas soube que pouco mais acima havia outro povoado, de nome Pantaleão (!), inda menor que a Mata da Onça.
Quando voltei pra casa do Clemilton, esperavam-me piabinhas fritas
Vascaíno, pintou a fachada de sua casa assim: um art déco sertanejo psicodélico com o escudo do Vascão. Prometi-lhe levar em São Januário um dia. Ele, o moço artista total das Onças, aceitou
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