Tuesday, September 13, 2022

Gil

 

Ainda triste e chocado, simplesmente evito pensar. Mas por evitar pensar, tenho agora que escrever, assim como tive que verbalizar para algumas poucas pessoas. Em resumo: há um mês escrevi um textinho a que chamei de "Couve" (aqui). Escrevi logo depois da minha experiência no hortifrutti (é tudo verdade). Como visitei meu pai em seguida, mostrei-lhe tão logo cheguei, ele gostou. Bem.

No texto falo na Gil, essa amiga que não via há uns oito anos. Trabalhamos juntos por todo um ano no Tabladinho, nós dois à frente da turma das crianças de 4 anos. Foi um ano intenso. Como disse no pequeno texto, a Gil falava e fazia coisas que ninguém mais e aquilo me marcou muito. Nunca esqueci, partirei com elas. Mas o que preciso dizer agora é: embora a Gil tenha me marcado muito, não me lembro de a ter mencionado nessas bobagens que escrevo. Ever.

Pois na sexta passada falei nela, dia 12 de agosto, falei nela. E nesse mesmo dia ela morreu. Por volta da mesma hora

Sim, estou chocado com a coincidência (o que minha mãe não diria?, conforme escrevi aqui), mas estou mesmo é devastado

Trabalhei com a Gil quando tinha 21, 22 anos. Não é mais ou menos 21 ou 22, é que como nasci em junho, até o meio do ano de 1990 tinha 21. Depois, 22. Eu já estava com a turma das crianças de 4 anos desde 1987. Lembro de mim como um professor dedicado e carinhoso, mas que podia ser arrogante com os colegas. Eu achava que sabia tudo, adolescente tardio. A Gil derrubou isso rapidinho, com um sopro

Uma das coisas queridas que aprendi. Ela tinha me dito que não poderia ir no dia tal, pois teria que fazer um trabalho. Tá bom. No dia seguinte a este trabalho, em dado momento ela me cobrou "E você nem perguntou como foi ontem". Ela estava me cobrando. Fiquei tão impactado, me marcou tanto que incorporei, o que me rende até hoje série de olhares e pensamentos enviesados. Ali aprendi que a gente tem mais é que cobrar daqueles que são importantes para nós 

Procurei tanto alguma foto com ela, sem sucesso. Mas encontrei este bilhete, que ela colou na porta do meu armário, já em 1991, ela de volta ao turno da manhã, eu continuei à tarde. E passamos a nos ver apenas brevemente, em fugazes encontros 

 


 

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