Friday, January 07, 2022

Dante, eu, tererê

Pensei tranças pra mim e pro Dante para marcar não só o seu décimo-terceiro aniversário como a nossa união. Tranças no plural porque para ele e para mim, mas apenas uma em cada cabeça. Aí entrei, com a ajuda da madrinha Isabela Santos, no universo delas, até então desconhecido para mim: nagô, box braid, crochet braid etc. Reparei como tanta gente usa tranças no Rio de Janeiro (é sempre assim) e descobri que as trancistas são muito ocupadas: na terça dizem ter disponibilidade para no dia seguinte afirmarem solenes que estão com a agenda cheia. Uma mandou eu procurar outra trancista, como quem manda se queixar ao bispo, para não dizer coisa pior. Outra nada diz, fica de responder e some, tipo sair para comprar Coca com casco de Pepsi. Cheguei a dizer pra Isabela: ó, na próxima encarnação a gente volta trancista, trabalho não falta e não tem que corrigir prova.

Acabou foi melhor assim. Porque a Nadine, igualmente atenciosa com o Dante, me fez ver que o que eu queria era uma tererê, algo mais sutil para começar. Passou a dica do lugar: Posto 6. Chegando no calçadão, logo avistamos moça na areia, fôlder na mão, caminhando como quem vende cuscuz ou mate. Deus ex-machina. Pego Dante pela mão e lá vamos atrás dela, desce a escada, corre na areia, chama a trancista. Falamos, negociamos, e ela ali mesmo faz o tererê azul na gente. Chama-se Minerva, veio da República Dominicana. Como esquecer? Até ano passado seria difícil segurá-lo ali, pois ele ia querer mergulhar de roupa e tudo. Hoje, já não ligando tanto para praia, reclama que quer mate, quer fazer xixi, quer ir embora. Na hora de fazer a dele, ligou a sirene mais forte. Mas insisto. No final, estamos felizes.

No dia seguinte, estamos radiantes.

Eu tinha minhas inseguranças se ele aceitaria a tererê numa boa, sabendo que autista tem, por exemplo, histórico de irritação com etiquetas de camisa. Já teve a fase de eu cortar todas. Se ele reclamasse, por óbvio que eu ia correr para desfazer. Na manhã do dia seguinte às vezes descobre a trança e reclama um pedaço. Depois aceita e parece gostar.

Duas semanas depois, no carro, na volta de Terê (Terê-Tererê), brinca contente com ela na janela. É mesmo um menino feliz com sua trança ao vento -- o seu sorriso. Ontem, dia 4 de janeiro, a dele caiu. Hoje sentiu falta e pediu outra.

Vamos atrás da Minerva





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