Thursday, December 15, 2011

Filho da Puta


Não haverá mais cavalo como aquele. Na primeira metade dos anos 60, precisamente nos anos de 62 e 63, Filho Puta reinou absoluto nas raias do Jóquei.

De todos os jóqueis que o montaram, Barrosinho, de Nova Russas, foi quem mais o compreendeu. Vê-los humilhar os colegas -- cavalos e jóqueis -- era não saber onde terminava o corpo de Barrosinho, onde começava o de Filho da Puta. O fato de Barrosinho medir 1,20 e pesar 40 quilos, o que lhe rendeu entre os colegas despeitados o apelido de Pigmeu, ajudava.

Nas festas que o dono de Filho da Puta promovia no jetset carioca, regadas a champagne e cocaína, Barrosinho proclamava fungando (ou aos soluços): "Esse cavalo não é apenas Filho da Puta, é também filho de uma égua!" Mas ninguém achava graça. Barrosinho, claro, não pertencia e não percebia ser títere. Nem o Filho da Puta.

Mas ganhavam e ganhavam e tudo eram champagne e alfafa fresquinhas. Multidões afluíam de todo o canto para gritar: "Corre, Filho da Puta" e, depois, na vitória, berrarem extasiadas "Filho da Puta! Filho da Puta!". Igual, nem no Maracanã. Tias e mães ouviam filhos e sobrinhos nessa gritaria e, impotentes, nada faziam: era o nome do cavalo.

Em seus lares, esses mesmos filhos e sobrinhos também cavalgavam empregados e empregadas (mesmo, e principalmente, quando chegvam aos 15,16 anos), agregados e agregadas, e chicoteando-lhes o lombo gritavam: "Corre, Filho da Puta!".

Até que um dia apareceu Esmeralda, por quem Filho da Puta caiu de amores. Como estes não eram platônicos, o cavalinho, em meio ao páreo, tinha ereções tão violentas que lhe impediam de correr. Qem acha que exagero, tente. E asssim começou seu declínio. Não havia viseira, tapa-olho, nada: Filho da Puta sentia Esmeralda pelo cheiro e já não terminava corrida.

Tentaram comprar Esmeralda, corredora apenas medíocre, mas seu dono, rival, declarou-a invendável. Barrosinho abandonou-o e em seguida seu dono que, numa festa já não tão badalada, declarou peremptório: "É um grandissíssimo Filho da Puta!".

Foi vendido, exilado em Paquetá, para puxar carroças. Durante a travessia, quem teve a chance de fitar Filho Puta nos olhos óleos entendeu o que realmente é tristeza.

Barrosinho virou garçom do Jóia, o Jóquei virou um imenso shopping center, o país, um matadouro. Seu ex-dono continua o mesmo. E passados alguns anos, quando já mal puxava carroças, Filho da Puta foi sacrificado e virou ração de cachorro.

Hoje é apenas um retrato na parede.

Mas como dói.

2 comments:

۞ Potira ۞ said...

Nem conto todas as possibilidades que imaginei ao ler o título da postagem...

=P

Luiza Machado said...

Que ironia o nome desse. Desgraça, filho da puta. Mas tadinho, era só um mero apaixonado..