Cheguei aos 20 anos sem namorada e muito menos filhos. Tinha um trabalho que amava e que levava muito a sério: era professor / recreador infantil no Tablado. Em termos de estudos, cursava Psicologia na UERJ, mas me concentrava mesmo era nas aulas de russo e, menos, nas de espanhol, ambos cursos coincidentemente situados na mesma Rua das Marrecas, das mais antigas do Rio.
Se a minha energia era mais direcionada para o russo, foi numa das paredes do Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica que vi pequeno pôster anunciando o I Curso de Língua e Cultura Galegas para Estranxeiros.
Larguei tudo - Psicologia, russo, Tablado, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha -- e fui.
Numa das últimas aulas na Universidade de Santiago de Compostela, um dos ótimos professores tocou Milladoiro para nós, umas três músicas, sendo "Estroupelear" uma delas.
Foi aquela história da "Cachorra", do Pedro Dantas: nasceram rosas e o céu se rasgou para a maravilhosa aparição.
No último dia do curso perguntei ao professor como era o nome daquele grupo, "Milheiro?". Ele me corrigiu sorrindo, o suficiente para eu voar para as ruas de pedra de Santiago e, com meus contadinhos caraminguás, comprar vinil do Berro Seco e fita cassete do Galicia no Pais das Maravillas.
Isso tudo aconteceu em 2 de outubro de 1988, dia que Camila nascia e a quem eu encontraria pouco depois, em 2012.
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