Confesso que me enterneceu o carinho com que algumas pessoas acolheram recentemente Taipa, o pequeno livro de poesias que publiquei há exatos dezoito anos.
Eu, que já me julgava um Bartleby, passei mesmo a acalentar a possibilidade de um novo lançamento: pouca coisa, pouco barulho e sobretudo algo com a marca da artesania.
Artesania, foi isso que me atraiu para a Mundo Manual, pequena editora do poeta Sérgio Campos pela qual saiu meu livro e que agora não lembro como conheci . Sei que, ao conhecer, pensei, se tiver que sair, sairá por aqui. Se o Sérgio quiser, claro. Mandei os poenas (por correio, falo de época pré-internet) e depois recebi a carta de aceite. Visitas, conversas, orientações, não muito depois saía Taipa.
Depois, quando mandeí-lhe o livro, recebi-o de volta. O susto de receber envelope com a sua letra. Em carta gentil, seu filho, também estudante da PUC à época, me explicava que o pai, de frágil saúde, falecera, aos 53.
Pela Mundo Manual saíram seus livros e alguns poucos outros de Floriano Martins, Gildo Magalhães, Francisco Carvalho e Evandro Domingues.
Lembro-me de Sérgio Campos como se fosse ontem. Sua enorme sensibilidade, sua risada quieta e grave, seus gestos gentis. E a parede de seu quarto repleta de CDs clássicos.
CANÇÃO DE AMIGO
Sérgio Campos
O meu amigo via nos pardais
mais do que via a sombra passageira
Cingir-se a vida a mínimos plurais
para não ser dos ritos prisioneira
Por isso parecerem tão iguais
e o mundo não ser mais do que clareira
e ser a fome sempre mais voraz
porque é voraz a vida quando inteira
O meu amigo amava estes pardais
que agasalhava em fogo de lareira
E como são as coisas naturais
são naturais as coisas verdadeiras
Viver é uma estratégia de pardais
é se buscar nas perdas derradeiras
2 comments:
Estou muito impressionado com esse poema. Que força! E ao mesmo tempo quanta sutileza!
Oh, Evandro! Que poema lindo!
Taipa está na minha lista de melhores presentes já recebidos, sabia? Qualquer recordação sobre seu livro enternece.
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