LEGADO
O meu pai habitava os flamboyants
que já o habitavam bem antes que ele,
só, habitasse a casa em que as manhãs
vinham surpreendê-lo. Esse hábito --
o de perder-se na leitura -- herdei-o
bem como o de habitar espaços
que imagino e cultivo enquanto leio.
Dele também terá nascido o errar
sob a chuva, o calçar sapatos velhos
e improvável brilho verde no olhar
quando na face incide luz oblíqua.
Dele, por fim, o sem jeito das minhas
mãos: casa cheia de livro e o desespero
para abrir uma lata de sardinhas.
2 comments:
Sem rodeios: na minha humilíssima opinião você é um putapoeta!
Concordo. Inclusive ultimamente esses versos tem me causado grandes arrepios...
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