Este é um soneto antigo, pós-Taipa, pré-blog, escrito em tempo em que eu não escrevia mais. Pensando aqui, deve ser de 2002, 2003. Escrevi e perdi. Quando fui procurar, não havia backup que o salvara. Se o tenho hoje é graças à Erica, a quem eu tinha mandado. Por que ela o guardou até hoje me intriga.
REVER VENEZA
Flutua sobre as águas de Veneza
este palácio que me molha os olhos.
Flutuam pombos e flutuam doges
e ruas líquidas e os seus escolhos.
Rever Veneza, amor, será, enfim,
ver Veneza como da vez primeira:
Conhece o corpo aquilo que o perturba?
Entende a alma aquilo que a golpeia?
Veneza espera numa tarde fria.
Quantas pontes e escadas em neblina
aguardam nossos passos peregrinos?
Voltemos. Na memória as águas passam
e esperam que de nossa pele nasçam
o mesmo gozo e o mesmo agudo espanto.
Tuesday, April 10, 2012
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1 comment:
Bem, você diz que quando escreveu este poema não estava escrevendo... Devo dizer que você não estava escrevendo “bem demais” rsrs. Aí a sutileza venceu (desculpe, você vai entender a tal "sutileza" - é que comecei dos poemas finais para os iniciais e agora, no email, organizei e os comentários ficaram meio confusos rsrs), e vejo aquilo que gosto no seu estilo. A última estrofe e a imagem da memória são especialmente belas (não sou uma boa crítica de poesia, conforme já disse, ou gosto ou não rsrs). A memória como o único espaço em que é possível viver o mesmo gozo e o mesmo espanto é delicado e cortante ao mesmo tempo. Muito lindo.
M.
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