Sunday, October 23, 2011

In Gloria



O que é a Glória? Uma estação de metrô, indicando que Botafogo e Copacabana estão próximas. Para alguns, uma igreja (mas que igreja!). Para uns poucos, também um relógio (e que relógio!). E só. A Glória, como a Praça da Bandeira, é passagem, sem qualquer sentido metafórico.

Mas se mesmo a Praça da Bandeira revela não poucas surpresas para o olhar atento e amoroso (alguém aí já reparou aquele centenário portão do Matadouro lá fincado?), o que dizer da Glória.

Para mim, independentemente de seus palácios, sua gloriosa igreja no Outeiro, sua igreja positivista (!), sua igreja em estilo neogótico inglês de belos vitrais, independente de seus casarões, seus cortiços, suas vilas, seu monumental Hospital da Beneficência Portuguesa, sua taberna, seu relógio de quatro faces, suas ladeiras, suas escadas, seu chafariz setencetista, sua murada, seus maravilhosos botecos sórdidos, a Glória já mereceria lugar de destaque nesta cidade que teima em valorizar apenas praias, samba e futebol [de preferência um único time], pois que aqui morou, por 41 anos, Pedro Nava, mineiro que amou o Rio como poucos. Em Galo-das-Trevas, quinto volume de suas memórias, lê-se:

Há trinta e cinco anos moro no Edifício Apiacá, à Rua da Glória, 190, apartamento 702. Quando para aqui mudei o número era 60. Nosso arranha-céu levanta-se em terreno onde existiu famososo bordel do bairro nunca completamente saneado. Aqui passei quase metade de minha vida. Aqui envelheci. Quer dizer: aqui tive contados minutos de paz e um roldão de dias noites de tormento. (p. 26)

1 comment:

Giubi-Lee On-Line said...

Tenho o maior carinho pela Glória. Meus pais moraram lá antes de eu nascer, na Santo Amaro, e acredito que lá fui concebida... Eles adoravam tomar as biritas na Taberna da Glória. Acaba tendo um sentido bem metafórico, rs. Porque mesmo a partir do momento em que eu me fiz presente na vida deles, eu ainda não podia testemunhar muita coisa. Mas curiosamente, me lembro do cheiro do apartamento...