Sunday, January 08, 2012

Toda Literatura é Auto-Ajuda



Na primeira noite sonhei que um ônibus levava minha mochila e sacola. Peguei um táxi para segui-lo mas, claro, o tàxi parava em todos os sinais enquanto o ônibus sumia de vista.

Na segunda noite sonhei com estilhaços, muitos, e, na terceira, com leões, grandes e ameaçadores. Sonhos tão clara e facilmente simbólicos que dir-se-ia talhados para o divã ou, pelo menos, para um desses manuais de interpretação que se vendem nas bancas de jornal das rodoviárias.

No quarto dia, literalmente, não era noite, peguei o volume de contos do Tennessee Williams, que chegara há uns poucos dias. Eu já sabia que o volume era organizado em ordem cronológica, de modo que fiz questão de não começar pelo início.

Abri a esmo em ¨The Angel in the Alcove¨. Ora, um conto que começa por "Suspicion is the occupational disease of landladies and long association with them has left me with an obscure sense of guilt I will probably never be free of.", ora, dizia, um conto que assim começa de maneira tão arrebatadora não irá senão deixar-me a sensação que intitula este post.

Certeza que eu já tivera, de maneira igualmente clara, ao começar The Dying Animal, do Roth,em janeiro de 2010.

Senti-me menos só e é nisso que a literatura nos ajuda: fazemos parte deste mundo, com o que ele tem de tocata de Bach e de sordidez.

Comentei isso com o Cristóvão Tezza em nosso rápido encontro, contando-lhe que seria pueril e depreciativo chamar O Filho Eterno de auto-ajuda, mas que ele tinha me ajudado pra cacete, isso tinha.

Voltando ao Tennessee, apenas conhecido por suas peças: por aí se avalie a força da literatura norte-americana, meio que tacitamente desprezada pela intelligentsia de plantão.

3 comments:

Ana Beatriz said...

Não sei se é meio off topic, mas acho muito bom que agora exista a internet e os blogs por que assim a gente fica mais perto das pessoas que escrevem. Acho que isso saiu meio confuso, mas o que eu quero dizer é que, quando eu era adolescente, eu lia os livros e por um lado me sentia menos sozinha, por outro achava que as pessoas que pensavam e sentiam como eu estavam mortas ou irremediavelmente inacessíveis.

Ana Beatriz Braga said...

Esse texto é maravilhoso. Acho que por isso gosto tanto de literatura. Já que nasci, fico tentando fazer parte desse mundo...E sobre Bach, tem uma coisa muito doida que eu sinto. A grande arte dá sentido à vida, mas com Bach isso vai para um nível ainda mais profundo, é como se ele jogasse uma luz sobre o passado. Eu sinto algo como "a vida faz sentido e eu nuca duvidei disso"..

A VIDA NUMA GOA said...

Tropeço numa fala do David Foster Wallace: "fiction’s about what it is to be a fucking human being," and he expressed a desire to write "morally passionate, passionately moral fiction" that could help readers "become less alone inside".

You can say that again.