Nesta semana que passou a mídia falou muito em José Alencar, o ex-vice que, ao morrer de câncer, virou herói. Deixa ver se entendi: ele lutou pela própria vida e... é herói? Tudo bem, deixa quieto, mas se ele foi / é herói, o que foram Paulo Bandeira, Chico Mendes, Dorothy Stang?
Ah, dirão, mas ele lutou contra a doença mantendo o bom humor!!! Bem, convenhamos que ser atendido pelos melhores médicos do país, no Hospital Sírio-Libanês, e sem ter de se preocupar com a conta (paga com o dinheiro do contribuinte), ajuda um pouco a manter o bom humor, não? Imagina ele tendo que madrugar numa fila de hospital para pegar uma senha para fazer uma sessão de quimio com um médico que o ignora e despreza porque ele é preto e pobre. Meu padrasto, nem tão preto e pobre assim, mas longe de um zéalencar, tratou de seu câncer na Cruz Vermelha. Depois o enxotaram de lá para que ele morrese em Vila Izabel. Entendam que meu padrasto, um homem forte, talvez não tivesse mantido o bom humor heróico do Zé.
Aliás, o herói podia ter feito de sua condição e visibilidade uma bandeira para que se melhorassem os tratamentos e os hospitais de oncologia no Brasil. Fez? Nada. José Alencar, todo mineirices, ficou na dele, quietinho, profissão: vice-presidente, nada fazendo, só curtindo suas heroicidades.
Dizem que ele era contra a política de juros altos, oh, que maravilha. Fez alguma coisa? Não que eu saiba. Talvez tenha comentado que não gostava disso enquanto tomava café da manhã com a patroa. E um pouquinho com a imprensa, mode fazer uma média. Com pão e manteiga.
Por fim: ele não reconheceu uma filha que teve, vejam se isso não é ato pra lá de heróico. Hércules perde. Até Pelé e Edmundo reconheceram, mas José Alencar RECUSOU-SE A FAZER O EXAME DE DNA. De quebra, insinuou que a mulher que pleiteava o reconhecimento era uma prostituta. E se fosse? Ah, Zé, isso me lembra aqueles playboys que roubaram e espancaram uma doméstica no ponto de ônibus e depois, em defesa, alegaram que pensavam que fosse uma prostituta. Ah, Zé. A filha, professora como eu, teve de ouvir isso.
Mas ao menos ela sabe que seu pai foi um herói.
onde eh que eu assino?
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ReplyDeleteMuito bom! e muito realista esse texto. É uma tapa na cara da imprensa e seus adeptos sensacionalistas. Parabéns
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